segunda-feira, outubro 31, 2011

paixão tardia


 O beijo - Gustav Klimt

Leio teus textos sempre com uma dor infinita. A mesma coisa acontece quando me narra outras histórias de tua vida: a cada história, um estilhaço de vidro me atravessa o peito.

A dor é fruto da ausência. Da minha ausência na tua vida durante todos estes anos. Tivesse te conhecido em 1982, no ápice dos meus 18 anos, teria seguido com você por estes 30 anos anteriores ao nosso encontro atual?

Não sinto ciúmes do teu passado ou das tuas mulheres (bem, talvez um pouco, por terem estado lá quando eu não estava). Sinto sim um ciúme avassalador do tempo que me foi roubado junto a você.

Porque, hoje, quando te olho, tenho medo da morte que te espreita, tenho medo de te perder para a morte. E tenho uma saudade insuportável do filho que nunca terei com você.

Quando olho fotos tuas, todas mais ou menos recentes, com exceção de uma, fico tentando desenhar na minha mente o homem jovem que você foi, pressentindo a beleza máscula do homem alto, magro, de olhos claros e cabelos escuros, rosto bem traçado, que eu não conheci e jamais conhecerei.

Sinto ciúmes de todas as mãos e bocas e pernas e sexos e peles que te roçaram, te tocaram, te beijaram, te amaram, te aqueceram na juventude. Tenho um ciúme avassalador do que não tive e nunca terei.

Ainda assim, hoje, quando te olho e te ouço, tua voz é grave e quente e me excita. Teu olhar azul, lindo, límpido, vivo, me atravessa como um estilhaço, desta vez de prazer. Teu sorriso malicioso te ilumina com a beleza da juventude e com a sedução da tua masculinidade intocada.

Aí te desejo tanto tanto tanto como se você ainda tivesse 30 anos - e como se eu também fosse uma menina.