quarta-feira, novembro 30, 2011

alfazema






Todas as noites, antes de me deitar, eu fico nua e passo uma folha de alfazema no corpo. Separo o dedal, as agulhas, os fios e o cetim e começo a remendar os vestidos que vou usar para você. É vestimenta antiga, vem lá de longe, meu tempo de mocinha. Em alguns, eu já trabalhei tanto que eles até parecem novos. Tudo pra te fazer feliz. Todas as noites, depois do perfume, eu abro a porta do quarto. Você entra de mansinho, aponta para um daqueles vestidos, eu fico bem bonita, nós saímos de mãos dadas e vamos comer algodão doce na frente da igreja do Bom Jesus. Todas as noites eu faço de conta que você não me deixou. Então para tudo, para o relógio, a respiração, o coração. Até o tempo para, meu amor, esperando que, se um dia voltar mesmo, você não note que essas roupas escondem tantos buracos dentro e fora de mim.

(Texto de Almir Feijó)

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