segunda-feira, dezembro 05, 2011

nuvens escuras


 William Turner, Nuvens escuras, aquarela, 1822


E eu te abraço por sobre as nuvens escuras na esperança de que a tempestade passe sem te levar embora. Porque cada relâmpago que surge ao meu redor me assusta e tenho medo de largar tua mão pra nunca mais. Queria ter ouvido o bater do coração no teu peito a cada vez que te tive nos meus braços. Queria ter silenciado todas as vezes que a tempestade se anunciou como perigo. Queria ter apenas te ouvido e te recebido em mim como a amante que quase não fui.

E eu te abraço por sobre as nuvens na esperança de que você me olhe mais uma vez e se emocione como na primeira noite, quando tua boca cantou sem palavras em meu ouvido e tuas mãos me tomaram inteira, me exilando dentro da tua alma. Queria que a viagem não tivesse sido tão curta, embora tenhamos dado a volta ao mundo para nos encontrarmos um diante do outro, despidos de temores.

Agora, por sobre as nuvens escuras, seguro tuas mãos para que não nos percamos um do outro. Nômades de nós mesmos, ainda assim nos encontramos no silêncio que se fez após o fim. Te vejo na manhã que nasce. Te respiro em cada lembrança. Te encontro em cada desejo que ainda não foi  destruído e que, teimosamente, resiste à escuridão, aos relâmpagos, à tempestade que se instalaram entre tua alma e a minha, entre teu corpo e o meu.

Te busco e me busca por trás das vidraças do mundo. Eu sei que você está aí do outro lado, ouvindo o que eu não digo. E você sabe que eu, aqui, também te ouço no silêncio. E como sei que você está aí, em algum lugar da tempestade, eu estendo minha mão até alcançar a tua e sentir o calor que dela emana. Eu te abraço por sobre as nuvens escuras, meu amor, na esperança de que você esteja comigo quando a tempestade passar.

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